A região serrana de Santa Catarina é formada por espessos derrames vulcânicos básicos e ácidos que remontam ao período de separação dos continentes americano e africano, quando da separação do Supercontinente Gondwana. A beleza cênica desta região é bastante conhecida e apreciada, mas poucos são os visitantes que realizam a riqueza geológica do local e seu significado como registro da história da Terra. Esta região abrange uma diversidade de sítios de interesse geológico de variadas ordens de importância (científica, turística, didática, cultural) já bastante conhecidos e até mesmo consagrados em alguns roteiros turísticos. Dado que a maior parte da produção vitícola da serra é produzida sobre rochas vulcânicas na região de São Joaquim, vamos conhecer um pouco das rochas deste local.

A geologia de São Joaquim é composta por rochas vulcânicas pertencentes à Província Magmática Paraná. Esta grande província ígnea é composta por uma sequência de rochas extrusivas e intrusivas de composição basáltica, andesítica, dacítica e riolítica, que foi formada por um grande evento vulcânico por volta de 134 Ma (Cretáceo Inferior).

É considerada uma das maiores províncias magmáticas continentais do mundo com volume de rochas extrusivas estimado em pelo menos 1.700.000 km³. No Brasil, as rochas extrusivas e intrusivas da Província Magmática Paraná estão agrupadas no Grupo Serra Geral.

Serra Geral: O maior vulcanismo do Brasil (www.youtube.com/watch?v=PIDIO–2uew)

A geologia do município de São Joaquim é composta, segundo o Mapa Geológico da Bacia do Paraná (CPRM, 2022), por duas unidades geológicas do Grupo Serra Geral, descritas da base para o topo: Formação Vale do Sol, que ocupa a maior parte do município (82,61%), formada por rochas básicas (andesitos basálticos e subordinados andesitos e basaltos); derrames rubbly pahoehoe (com brechas autoclásticas no topo), tabulares e espessos; e a Formação Palmas composta por dacitos e subordinados riolitos, afíricos e geralmente devitrificados; derrames espessos tabulares, domos, lobos de lava e sistemas de condutos rasos; localmente autobrechas basais e frontais, estruturas e dobras de fluxo.

Como estas rochas são formadas por resfriamento rápido ou quase instantâneo da lava em superfície, não há tempo para o crescimento de minerais, o que geram rochas escuras e muito parecidas umas com as outras, sendo difícil sua classificação em trabalhos de campo. Então, como nós geólogues identificamos e classificamos estas rochas?

Bem, existem algumas evidencias de campo, como a forma como elas afloram ou ocorrem, os minerais que as formam, que muitas vezes só identificamos ao microscópio, além de suas características geoquímicas. Alguns exemplos são mostrados a seguir.

Mapa geológico do município de São Joaquim elaborado pelo autor com dados de CPRM (2022)

As rochas vulcânicas de São Joaquim ocorrem em sua maioria como extensos horizontes gerados pelos derrames de lavas. Embora muitas vezes não contínuos, podemos observar exposições rochosas ou afloramentos destas rochas em alguns locais. A) Derrames de basalto do tipo Urubici, B) Derrames de basalto tipo Gramado e C) Derrames de dacitos do tipo Palmas.

As rochas basálticas estão frequentemente mais alteradas com capa de alteração mais avermelhada ou amarelada, são mais fragmentadas e com maior formação de solos que as rochas dacíticas, que resistem melhor ao intemperismo dada sua composição mais rica em sílica e tem coloração mais clara.

Dado que é difícil identificar em campo os minerais das rochas, como nós podemos classifica-las e subdividi-las?
Isso demanda um longo trabalho de laboratório onde fazemos a identificação das rochas através de análises microscópicas e geoquímicas. No microscópio, através de lâminas petrográficas conseguimos ver os pequenos minerais formadores das rochas, que embora parecidos, em proporções diferentes nos permitem saber qual tipo de rocha estamos observando.

No microscópio, através de lâminas petrográficas conseguimos ver os pequenos minerais formadores das rochas, que embora parecidos, em proporções diferentes nos permitem saber qual tipo de rocha estamos observando.

Lâmina Petrográfica de basalto: cristais coloridos são piroxênios e os cristais em cinza são cristais de plagioclásio. A porção escura é a matriz composta por vidro vulcânico. (Vinícola Boutique D´Alture).

Lâmina Petrográfica de dacito: cristais coloridos são piroxênios e os cristais claros são cristais de plagioclásio. A porção escura é a matriz composta por vidro vulcânico. Notar a diferença na proporção de cristais de plagioclásio com relação aos basaltos. (Vinícola Pericó).

Quando trabalhamos com rochas vulcânicas ainda é preciso gerar dados de geoquímica de rocha, ou seja de sua composição química para podermos fazer uma classificação e definir corretamente o tipo de rocha e sua composição. Estes dados são obtidos através da pulverização de um pedaço de rocha e análise em laboratórios especializados.

Diagrama TAS (total álcalis vs sílica) de Le Bas et al. (1986) ilustrando a classificação geoquímica das rochas vulcânicas de Saõ Joaquim